Marco Antônio Costa Dias
Como defensor da causa ambientalista, aceitei o convite da agência FAZCOM para escrever o roteiro e protagonizar o vídeo sobre o Parque Linear. Como a maioria da população belo-horizontina, eu não conhecia o caso. Então, o primeiro passo foi pesquisar e me informar sobre a situação do parque.
E foi aí que eu percebi a importância daquela região para toda a cidade de Belo Horizonte. Eu precisava informar às pessoas de uma forma clara, objetiva e didática sobre o que estava acontecendo e as consequências da venda daquela região para a iniciativa privada.
O leilão de privatizações, organizado pelo governo federal, está marcado para este mês de março. As informações veiculadas nos jornais afirmavam que as propriedades daquela área eram consideradas o destaque das vendas. A área já havia recebido 38 propostas de compra, afinal, é uma região muito visada pelo setor imobiliário devido ao seu valor de mercado.
Se a população não fosse devidamente esclarecida, ela não se manifestaria e o leilão poderia ocorrer, mesmo a região tendo cinco tombamentos, devido à sua importância ambiental, cultural e histórica. Uma expansão imobiliária mal projetada provocaria sérios impactos hídricos e ambientais naquela região. A construção de mais prédios em uma área extremamente povoada como aquela aumentaria a impermeabilização do solo diminuindo a capacidade de absorção da água e comprometendo a reposição do aquífero que há no subsolo trazendo sérias consequências para o abastecimento de toda a cidade de Belo Horizonte.
A venda ainda ofereceria diversos outros riscos à preservação ambiental, como provocar danos à Serra do Curral e à Estação Ecológica do Cercadinho, primeira reserva ambiental-hídrica da cidade.
O projeto de criação do parque, defendido pela população, é muito mais interessante, pois, preservaria o ecossistema e proporcionaria a todos um espaço de lazer e cultura. A cidade de Belo Horizonte precisa de mais espaços assim. São pouquíssimas as áreas verdes existentes para que as pessoas possam se encontrar e ter momentos de contato com a natureza.
Além disso, a revitalização da linha férrea é fundamental para a preservação da memória histórica de Minas Gerais, ainda mais com um trem turístico ligando Belo Horizonte a Inhotim, em Brumadinho.
Espero que o vídeo possa ter cumprido sua função: informar a população sobre os riscos de degradação ambiental que poderia ocorrer com a venda do parque linear.
No Instagram @parquelinearbh, o vídeo teve, até o momento, quase 7 mil visualizações e foi compartilhado milhares de vezes no whatsapp por pessoas do país inteiro, o que foi fundamental para disseminar o risco de extinção da área verde para dar lugar a uma rodovia com prédios.
Este é um exemplo de que podemos manipular, com responsabilidade, as redes sociais, utilizando-as como instrumento de informação, de educação e de reflexão.
Mas esse vídeo ainda pode nos proporcionar uma outra reflexão, que vai além das informações por ele veiculadas: a de que as pessoas se conscientizem de que elas são capazes de se mobilizar para defender os interesses do bairro, da comunidade ou da cidade em que vivem.
Não podemos cruzar os braços na expectativa de esperar que só o poder público tenha atitudes por nós e defenda nossos interesses. Somos cidadãos, temos deveres, mas também temos direitos que devem ser constantemente defendidos. Com conscientização, organização e união, podemos mostrar ao poder público os anseios e as demandas da população. E um deles é o cuidado, o respeito e a responsabilidade no trato do que é público.
(*) Marco Antônio Costa Dias é professor e ator
Comments