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ARTIGO - Quem calçará as Sandálias do Pescador? 

  • Foto do escritor: Cefas Alves Meira
    Cefas Alves Meira
  • há 6 horas
  • 6 min de leitura

                                                                J. D. Vital (*)

J. D. Vitale família com o Papa Francisco, em Roma
J. D. Vital e família com o Papa Francisco, em Roma

 O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, desponta como favorito para suceder o Papa Francisco em um conclave que promete ser marcado pela incerteza em tempos conturbados e marcados por polarizações ideológicas e religiosas. Quem seria o nome certo para calçar as sandálias do Pescador?

 

Segundo as casas de apostas inglesas, o purpurado italiano lidera a lista dos “papabili”, com uma probabilidade de 4 por 1.

 

Solista de uma das mais longevas cortes diplomáticas do Ocidente, Pietro Parolin, aos 70 anos de idade, pode até brilhar como um cometa que transita nos céus de Roma há 12 anos, desde 2014, quando foi nomeado pelo pontífice argentino para o cargo equivalente a primeiro ministro do Vaticano.

 

Ele não é, porém, a estrela de Belém que anunciaria a chegada de um sucessor de Jesus de Nazaré, capaz de sacudir e magnetizar a Igreja. E de chacoalhar os pilares do templo.

 

Entre os vaticanistas cresce a convicção de que a Igreja Católica terá de eleger um Barack Obama de mitra, caso queira surpreender o mundo, testemunhar a crença nos valores da igualdade e da diversidade e afastar qualquer suspeita de discriminação racial. Um papa, sem a tez europeia, representaria um choque de cristianismo em seu rebanho estimado em 1 bilhão e 400 milhões seguidores.

 

A Igreja já agiu assim no passado. Ela aplicou um golpe de mestre em cima da sociedade escravocrata de Minas Gerais há 135 anos. Nomeou em 1890 o padre Silvério Gomes Pimenta, um sacerdote negro e sábio nascido em Congonhas, como bispo auxiliar de Mariana. Mais tarde, Dom Silvério foi elevado pela Santa Sé a arcebispo.

 

Em momentos dramáticos da história humana, como os dias de intolerância, desunião e ódio que vivemos, um candidato diplomata costuma disputar com santos e profetas a preferência dos cardeais na Capela Sistina.

 

A habilidade do Secretário de Estado no trato de questões delicadas como a guerra da Ucrânia e as tensões entre os governos de Donald Trump, dos Estados Unidos, e XI Jinping, da China, reforça o cacife de Pietro Parolin. Resta saber se o prelado no topo das casas de aposta carrega consigo também as virtudes missionárias desejáveis em um novo papa, permitindo a reedição do conclave de 1958 que elegeu o cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, patriarca de Veneza, para suceder o Pio XII. O patriarca, então com 77 anos de idade, tomou o nome de João XXIII.

 

Roncalli integrava o quadro de emissários políticos da Igreja. Sua longa carreira diplomática, iniciada em 1925 como visitador apostólico na Bulgária e, em seguida, como delegado pontifício na Grécia e na Turquia, prosseguiu com sua nomeação em 1944 para o espinhoso posto de núncio apostólico em Paris, durante a ocupação da França pelas tropas de Adolf Hitler.

 

O arcebispo italiano serviu à Igreja, com diplomacia, santidade e compaixão. Salvou milhares de judeus perseguidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1953, o Vaticano o removeu de Champs Élysées, promovendo-o a cardeal e Patriarca de Veneza, antes de sua eleição para comandante da Igreja Católica. Na Basílica de São Pedro, João XXIII, o Papa Bom, de sorriso paternal, revolucionou a terra dos homens. Em apenas 4 anos e 218 dias de pontificado.

 

Convocou o Concílio Vaticano II. Renovou a face da Igreja. Abraçou o ecumenismo. Soprou a poeira milenar da tradição que se depositara nos altares. Iniciou uma era de transformações que resultaram na escolha do profeta argentino Jorge Mario Bergoglio como 266º sucessor de Pedro e responsável por mudanças radicais que buscaram a moralização da Cúria Romana, o fim do carreirismo eclesiástico. O jesuíta combateu os crimes de abuso sexual por parte do clero e abriu as portas da misericórdia aos divorciados e às minorias do LGBT.

 

Seria o melhor dos mundos, assim na terra como nos céus, se eleito, Pietro Parolin repetisse João XXIII e viesse a dar sequência ao legado de Francisco, o Bom Pastor. Continuasse a luta na defesa intransigente dos migrantes, dos deserdados e da ecologia. Levasse adiante a inclusão da mulher na administração da Igreja, como fez Francisco nomeando a freira Simona Brambilla para o Dicastério da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, primeira mulher prefeita no Vaticano. Que não hesitasse na denúncia da injustiça social e dos conflitos armados da atualidade e fosse um instrumento da paz.

 

A eleição de um papa vindo do fim do mundo da África ou da Ásia seria mais midiática, com efeitos similares a aqueles desencadeados pela chegada de Barack Obama à Casa Branca. Funcionaria, segundo vaticanistas, como a célebre teoria do canadense Marshall McLuhan – “o meio é a mensagem”. Então, teríamos uma mensagem de compromisso com a diversidade e a universalidade estampada na testa do Santo Padre.

 

O impacto de um papa africano ou asiático, ainda que pudesse provocar novas rachaduras na Igreja, revitalizaria os ensinamentos do Evangelho de que todos os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus, em pé de igualdade. Aptos a servir e também a governar.

 

Até a eleição do argentino, os cardeais de fora da Europa e da América do Norte eram vistos com preconceito pela elite votante europeia. Como se fossem, na expressão italiana, “un figlio minorenne” - um filho menor de idade, segundo inconfidência do cardeal brasileiro Dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, na saída do conclave que coroou o polonês Karol Wojtyla como Papa João Paulo II.

 

Papa Francisco fez a sua parte. Povoou o colégio dos cardeais, antes dominado por europeus, com representantes da África e da Ásia. Dos 30 cardeais africanos, 18 vão participar do próximo conclave, quase todos de nomes desconhecidos e de pronúncia difícil aos ouvidos ocidentais. Por exemplo, o arcebispo Protase Rugambwa, de Tabora, na Tanzânia. Ele ganhou o chapéu cardinalício em 30 de setembro de 2023 e tem experiência na burocracia vaticana, onde serviu como secretário do Dicastério para a Evangelização dos Povos.

 

O sudanês Stephen Ameyu Martin Mulla, nascido em 1964, também foi feito príncipe da Igreja por Francisco no consistório de 2023. É um clérigo letrado, com doutorado pela Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma. Chefia a arquidiocese de Juba, capital do Sudão do Sul.

 

Sempre lembrado, mas nunca votado, o cardeal de Gana, Dom Peter Kodwo Appiah Turkson, é cria do Papa João Paulo II que lhe deu o barrete vermelho em 2003. Desde então, Turkson frequenta a lista dos “papabili” a cada sucessão papal. Esta será sua última chance porque encontra-se na marca do pênalti: completa 77 anos de idade em outubro, e em três anos ficará inabilitado porque os cardeais com mais de 80 anos não podem participar do conclave.

 

Os asiáticos entram com uma bancada de 23 cardeais, entre eles uma estrela em ascensão, o cardeal filipino Luis Antonio Gokim Tagle, arcebispo de Manila, filho de mãe chinesa. Suas posições pastorais, particularmente o discurso a favor dos migrantes e contra a injustiça social na exploração dos trabalhadores, mulheres e crianças, despertaram a atenção dos vaticanistas. Bom de microfone, jovial e simpático, cabe-lhe, de forma emblemática, o epíteto de Barack Obama asiático. Ou de Francisco filipino, devido à admiração recíproca que cultivaram.

 

Gokim Tagle estudou e obteve o doutorado em Teologia no mais alto grau, “summa cum laude”, na Universidade Católica da América, em Washington, Estados Unidos. Bento XVI nomeou-o cardeal em 2012 e no ano seguinte, já no pontificado de Francisco, passou a integrar importantes dicastérios no Vaticano, como o da Evangelização e o Conselho da Seção das Relações com os Estados e Organizações Internacionais da Secretaria de Estado, presidida por Pietro Parolin.

 

O Espírito Santo, que ilumina as mentes e os corações, sopra suas preferências nos ouvidos cardinalícios, à revelia da opinião pública e   não tem por hábito se informar nos blogs dos vaticanistas. Por isso, ninguém sabe dizer quem usará o novo Anel do Pescador.

 

A barca de Pedro navega como um transatlântico colossal, incapaz de realizar manobras radicais e repentinas. Talvez, um nome que represente o meio termo entre a velha oligarquia católica europeia e as terras férteis de missão, nessa corrida eclesial, venha da minúscula comunidade católica de Ulaanbaatar, na longínqua Mongólia, berço do poderoso imperador Gengis Khan.

 

O cardeal Giorgio Marengo, nascido em 7 de junho de 1974 em Cuneo, na Itália, recebeu de Papa Francisco a missão de pastorear a “pequena Igreja da Mongólia”, dotada de apenas “9 locais de culto oficialmente reconhecidos pelas autoridades, espalhados por todo o país; 30 religiosas e 25 sacerdotes de diversas procedências, dois sacerdotes locais e cerca de 1.500 batizados”, segundo informou o site “Vatican News” dois anos atrás.

 

O budismo tibetano predomina no pais de 3 milhões de habitantes. Giorgio Marengo foi enviado para evangelizar a Mongólia, onde a messe é grande e os operários são poucos. Talvez, os cardeais do conclave possam enxergar nele o missionário para reflorescer a Igreja no mundo contemporâneo.

                                                       (*) J. D. Vital é jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras

 

 

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