Em 2008 alguém lá nos Estados Unidos acertou na mosca com o slogan do Barak Obama. “Yes we can”, ou “Sim, nós podemos”.
Simplesmente brilhante. O slogan não diz “Obama é isto ou aquilo.” Ia direto ao inconsciente de todo mundo que se sentia injustiçado. E quase todo mundo se considera um injustiçado, não só membros das minorias.
Mas era brilhante o slogan do primeiro candidato negro a presidente do país mais poderoso do mundo. Não para qualquer situação. Não o seria para Lula ou Bolsonaro, ou qualquer outro candidato, por exemplo. Como tudo realmente bom em comunicação publicitária, o slogan foi feito sob medida, como um alfaiate faz um terno exclusivo, e não o prêt-à-porter que todos nós experimentamos nas lojas.
Esse slogan fez tanto sucesso e foi tão comentado que aconteceu um fenômeno constrangedor. Ao redor do mundo começaram a surgir partidos e outras entidades chamadas “Podemos” (aqui no Brasil mesmo tem um).
E o slogan foi reciclado para um monte de situações nada a ver. Um grande slogan só serve para aquele propósito para o qual foi criado. Não existe fórmula de sucesso em comunicação publicitária, muito menos no marketing político. É alta costura e não prêt-à-porter.
Paremos e pensemos. Alguma das entidades que se apossaram do “Yes we can” fizeram muito sucesso por isso? O nome “Podemos” bomba como nome de partido político? Nada. Passa batido. A palavra “podemos”, isolada do contexto de pela primeira vez um presidente negro assumir o cargo nos Estados Unidos, não quer dizer nada. E, para piorar, tem um agravante que é meio difícil de explicar, mas que tem a ver com linguística. “Yes we can” é expressão corriqueira em inglês. Soa redondo, familiar. Mas “Sim nós podemos” não tem a mesma força em português.
Pense bem. Qual foi a última vez que você ouviu alguém dizer essa expressão, exatamente assim, de forma espontânea? Já começa que nós diríamos, no coloquial, “A gente pode”.
Conclusão: inspire-se nos grandes slogans e bordões bem sucedidos da história, mas não os copie. De “Cunhado não é parente. Brizola presidente”. referindo-se à sua ligação familiar com o então presidente João Goulart, a “Deixa o homem trabalhar” feito para um jingle do Lula e que se impôs como slogan porque acertou na veia, já que Lula era atacado ferozmente por causa do mensalão mas o Brasil ia muito bem, com belos índices na economia e crescimento.
Pegue esses mesmos slogans e use para outras situações que eles perdem a força completamente. Inspire-se neles mas crie algo novo, sob medida para o seu candidato. Algo que só sirva para ele.
(*) Jorge Netto é publicitário e consultor de marketing político
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