Tenha a certeza, prezado leitor, que não vou falar da bolsa de minha vizinha, a senhora Beth da Silva, boa amiga e nada discreta, que frequenta o sacolão e a padaria do meu bairro, com sua fantástica bolsa, onde tem de tudo. Tenho a má sorte de, às vezes, estar atrás dela na hora do pagamento das compras, cujo cartão de crédito nunca é encontrado sem que antes a bolsa seja esvaziada. Já vi, com estes olhos que a terra ainda há de comer, ela esvaziar sua bolsa de onde saem o secador de cabelos, batons, kit maquiagem, escovas de dente e do cabelo, perfumes, toalhas, agenda, absorventes, telefone, livros, pentes, toda sorte de documentos, mas somente no fim de tudo chega o cartão. É uma bolsa completa.
Prefiro falar da bolsa Bet, a mais nova instituição bandida, invenção do mundo com versão brasileira, que graças ao nosso varonil e criativo povo achou, finalmente, um bom motivo para gastar o rico dinheirinho recebido pelo bolsa família, criado e mantido pelo governo federal, a custos bilionários e distorções homéricas. Os criadores deste assistencialismo torto tinham o propósito de dar aos necessitados meios de sobreviverem com dignidade e matar a fome. Desde sua implantação, há mais de vinte anos, só aumenta, nunca diminui, transformou-se na melhor justificativa para o desemprego, vagabundagem, formação de mão de obra de aviõezinhos para o tráfego e coisas mais. Ninguém de baixa renda aceita mais ser “fichado”, o que provocaria sua saída da assistência.
É comum, às nove da manhã, à beira das moradias humildes ou favelas serem encontrados jovens e adultos, que poderiam estar no trabalho, jogando baralho ou tomando cerveja no bar.
Ronald Reagan, ex-presidente americano, dizia que um bom projeto de assistência social é aquele que só diminui, nunca cresce. Existem famílias, com o mesmo endereço que recebem 3 ou 4 benefícios, segundo critérios dos agentes que as credenciam e direcionam. E, agora, fazendo sua fezinha numa das bets da vida, em busca de prêmios sempre desejáveis, raramente encontrados. Vamos aos números: Segundo o governo federal, mais de 5 milhões de brasileiros beneficiários do bolsa família usam desse recurso para jogarem on-line nas chamadas bets, o nosso cassino virtual. São gastos mais de 8 bilhões de reais, mensalmente, diz a mesma fonte
Em boa hora a Procuradoria Federal dos Direitos Humanos e a Polícia Federal instalaram procedimentos para verificar o impacto destas apostas virtuais na situação de vulnerabilidade social e econômica destes apostadores. Por outro lado, o Ministério da Fazenda, através de seu ministro afirmou que cerca de 20 bilhões são apostados nestas Bets a cada mês, levantamento do Banco Central.
Ou seja, o bolsa família contribui com quase 30% das apostas feitas. Há, ainda, um agravante maior, já que o sistema de apostas foi implantado pelo governo federal sem nenhum rigor, sequer regulamentado, como o pagamento do justo imposto da atividade. Dai vem a lavagem de dinheiro como o caso de um famoso cantor, sócio de um destes jogos, antigo patrocinador do Corinthians Paulista, segundo a polícia do Pernambuco, além de tantos outros casos similares. A bolsa família, ou bolsa bet, transformou-se no maior agente de endividamento do sofrido, desamparado e esquecido brasileiro de baixa renda, que não tem acesso à educação e à saúde, já que falar de transporte é luxo demais.
(*) Nestor Oliveira é jornalista
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