top of page
banner-norte-1
Foto do escritorHamilton Gangana

ARTIGO - BH chega aos 127 anos com problemas de infância 

Atualizado: 13 de out.

‘                                   

                                               

A capital mineira foi projetada pelo engenheiro paraense Aarão Reis

 No distante ano de 1789 a monarquia anunciou, sob protestos, a intenção de se procurar uma outra cidade para ser a nova capital de Minas Gerais.

 

Era a primeira vez que se falava sobre o assunto, jamais esquecido. Adiante, chegou-se à conclusão de que Ouro Preto, realmente, não oferecia  mais  condições de progredir economicamente. Sua concepção topográfica montanhosa, não favorecia e também as condições de higiene eram muito precárias.

 

Com a Proclamação da República, em 1889, a antiga ideia reacendeu e tomou conta das ladeiras, praças e auditórios de Ouro Preto, com as opiniões divididas: os “não-mudancistas” e os “mudancistas” - cada um procurando defender seus acalorados argumentos, em reuniões, debates e manifestações. Até jornais foram criados, especialmente para difundir as ideias, os pró e os contra à ferrenha pendenga.

 

Ouviam-se gritos de guerra: ‘’Mudar por quê”? “Por que mudar”? Tem que mudar”! “Para um melhor lugar”!.. Não se falava noutra coisa em todos os níveis de discussões, a partir da abertura provocada pela Proclamação. Em 1891, o presidente do Estado, Augusto de Lima (1859-1934), determinou, por decreto, a transferência para outro local ou construção em um lugar diferente, que oferecesse as melhores condições pretendidas. Enquanto isso, chamava a atenção de todos, - e muitos foram lá conhecer-  um lugarejo aprazível e exuberante, rodeado de sinuosas montanhas, a cerca de 100 km dali - com um clima ameno e terras férteis, várias nascentes e cursos d'água, formando córregos de cristalinas e saborosas águas, e uma localização privilegiada, à sombra da Serra das Congonhas (Curral). De sobra, o pitoresco local oferecia uma vista de cair o queixo, capaz de surpreender e provocar a sonora e definitiva exclamação: que belo horizonte!

 

 Foi ali que prosperou o Arraial de Curral del-Rei e desenvolveu-se a Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del-Rei. O ponto histórico do lugarejo é exatamente onde está edificado o Santuário Arquidiocesano da Santíssima Eucaristia Nossa Senhora de Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte. Recentemente, em março de 2024, por decreto de lei municipal, aquele  espaço preservado passou a ser identificado, oficialmente,  como “Marco Zero” de Belo Horizonte. Foi onde tudo começou, perpetuando um legado histórico para a capital das montanhas.

 

Cinco comunidades se apresentaram como candidatas a substituir Ouro Preto: Cidade de Minas (renomeada Belo Horizonte em 1901), Juiz de Fora, Barbacena, Várzea do Marçal (em São João del-Rei), e Paraúna se julgaram em condições de atender às regras do edital de licitação. Foi criada uma Comissão de Estudos, formada por engenheiros e técnicos, com carta branca para agir, chefiada por Aarão Reis (1853-1936), para definir a cidade e o local mais capacitados e Belo Horizonte saiu vencedora. A mesma equipe de trabalho transformou-se em Comissão Construtora da Nova Capital - CCNC - sob o comando do engenheiro Aarão Reis.

 

Ouro Preto foi capital até 1893, quando houve a transferência

Em 17 de dezembro de 1893, com a lei número III, adicionada à Constituição Estadual, a sede do governo foi transferida para Belo Horizonte. E assim começa a história da primeira cidade moderna planejada do Brasil republicano, que chamou a atenção do mundo e despertou enorme interesse por estas plagas. A Comissão de Construção era composta pelos melhores especialistas e técnicos em engenharia, arquitetura, urbanismo, sanitarismo, edificações, pesquisas, vários deles oriundos da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Viagens de observação e estudos, levantamentos, avaliações, análises e discussões das ideias, reuniões técnicas, ajustes e elaboração de mapas, fluíam  com rapidez. No desenvolvimento dos trabalhos, ficou evidente que Aarão Reis não aceitava alterações no projeto original que elaborou, o que gerava divergências e conflitos entre os técnicos e alguns palpiteiros de plantão.

 

A avenida do Contorno, o primeiro anel rodoviário, sofreu resistências por separar as classes sociais: a área central urbana - “dos ricos”, com prioridade para as obras de infraestrutura. Do lado de fora do perímetro, a zona suburbana, reservada para sítios e chácaras agrícolas , “dos pobres e humildes” (com a ideia de “colocar em contato direto o campo e a cidade”), ficou sem receber um mínimo de benefícios.

Paralisada durante muitos  anos, a avenida do Contorno, só foi concluída  e inaugurada, em 1940, por iniciativa do então prefeito Juscelino Kubitscheck de Oliveira (1902/1976). Já a avenida Afonso Pena foi imaginada tendo como espelho um boulevard parisiense: duas largas vias laterais para os automóveis, e as calçadas amplas, nos dois lados, junto aos prédios; o centro foi reservado para ser uma via original, coberta de areia, preparada para os passeios a cavalo!

 

Contam os alfarrábios, que foi apontado um problema crônico, na nova cidade: a segregação social. Com a premissa de higiene, ordem e progresso, as transformações políticas, sociais e econômicas da época acabaram provocando a adoção de um projeto urbanístico desigual. O traçado da nova capital de Minas, baseado em soluções utilizadas em Washington, capital dos Estados Unidos, em Paris, e em referências mais próximas, - de La Plata, capital da província de Buenos Aires, não considerou a topografia de relevo ondulado e irregular, uma característica de Belo Horizonte. Prevaleceu o que estava na planta   original e fim de conversa.

 

Ao contrário do que foi pensado, a cidade não cresceu de dentro para fora, mas se expandiu na periferia, para onde foram os mais humildes, sem condições de morar na área nobre, o que prevalece até hoje. A área central recebeu tratamento sanitário e urbanístico, as avenidas largas, ruas espaçosas, praças bem situadas, com arborização, prédios de serviços públicos; as secretarias e órgãos do governo, o comércio, hospitais, mercados, parques e áreas de lazer,  monumentos, e a demarcação dos bairros mais próximos do entorno; fora do perímetro delimitado pela Contorno, praticamente nada foi planejado. A periferia cresceu de maneira espontânea e desordenada, com irregularidades - ruas e becos estreitos, moradias improvisadas, áreas de cultivo agrícola sem água e sem rede de esgotos, sem previsão urbanística, um deus-dará!

 

Conta a história que na época da construção ficou bem claro que os casebres, cafuas, as moradias irregulares seriam todas derrubadas - uma constatação de que os moradores humildes, pobres e negros eram indesejáveis - muitos foram expulsos para Venda Nova. Essa gente já habitava o arraial, sendo atraída pela rara oportunidade de emprego durante as obras de construção.  Com isso, surgiram as primeiras favelas, como a pioneira, a famosa  Pedreira Prado Lopes.

 

As obras de construção foram iniciadas em março de 1894 e a cidade inaugurada, em 12 de dezembro de 1897, às pressas, sem estar concluída, mas já com 10 mil habitantes, pelo presidente de Minas, Crispim Jacques Bias Fortes (1849-1917).  Belo Horizonte foi entregue alguns dias antes de sua inauguração, enquanto as instalações de água e esgoto ainda estavam incompletas. Visto que, a prioridade foi dada às infra estruturas visíveis, era mais importante parecer pronta, do que de fato estar pronta.

 

O competente Aarão Reis, natural de Belém do Pará, criador da planta original e chefe da Comissão de Construção de Belo Horizonte (CCNC), - foi engenheiro geográfico, engenheiro civil, urbanista, bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, professor de matemática elementar e empreendedor industrial. Renunciou ao cargo de chefe da CCNC, em 1895, dois anos antes da inauguração. Como executivo, fez parte dos governos estaduais de Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. Mas, teria atuado com negligência ao acreditar que a nova capital de Minas abrigaria um total de apenas 200 mil habitantes, centrados no perímetro interno da avenida do Contorno. Transformou-se no centro da cidade, hoje com 100 mil habitantes. Em 487 bairros, a capital tem cerca de 2 milhões e 500 mil moradores - a sexta capital brasileira mais populosa. A Região Metropolitana de BH (RMBH), concentra a terceira maior aglomeração urbana do país, em 34 comunidades, com cerca de 6 milhões de habitantes (Censo 2022), só perdendo para o eixo Rio-SP.

 

Os males e problemas insolúveis que atingiram Ouro Preto, no passado, surgiram em BH bem antes do previsto. A área geográfica da cidade (331,4 km²), é menor que a de Nova Lima (429 km²), Esmeraldas (909 m²), Brumadinho 639 km²), ou Caeté (542 km²), e aqui não há mais espaço adequado para expansão, o que justifica a diminuição progressiva da população da capital e o crescimento gradativo das cidades vizinhas. Apesar das conhecidas dificuldades de ir e vir, as pessoas optaram por morar nas proximidades da Grande BH, onde os custos de construção, de aluguel e sobrevivência seriam mais em conta.

 

Assistimos e ouvimos, nos horários gratuitos de rádio e televisão, a enxurrada de problemas crônicos que, desde sempre, infernizam a vida dos moradores da antiga “Cidade Jardim”. Desiludidos com as promessas, e  “roucos de tanto ouvir”, 29,54% dos eleitores inscritos deixaram de cumprir, em 6 de outubro último, o sagrado direito de escolher o novo prefeito, um dado muito grave. Entre 10 pretendentes, disputarão o cargo, em segundo turno, o candidato mais novo (27 anos, deputado estadual), e o mais velho, (77 anos, prefeito atual) - quando terão nova oportunidade de apresentarem projetos e assumir, definitivamente, que darão fim aos males que assolam Belo Horizonte desde a infância. Que Deus os proteja. E a nós também.

* Hamilton Gangana é publicitário

 

 

 

 

 

 

 

 

 

220 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page