Bertha Maakaroun
“Aqueles que queimam livros, acabam cedo ou tarde por queimar homens”. Heinrich Heine, autor de Almansor (1821), era alemão. Assim como Albert Einstein, Thomas Mann, Sigmund Freud e centenas de outros intelectuais, em 10 de maio de 1933 arderam a céu aberto em crematórios de livros, sob o patrocínio de Joseph Goebbels, um dos líderes intelectuais do nazismo.
A infâmia contra a memória se repete na história por atos de lideranças totalitárias. São parte da guerra cultural, trilha para a ascensão ao poder. No caso alemão, “Bibliotek” é o nome do memorial na Praça Bebelplatz, em Berlim, registro da queima de 25 mil volumes, naquela data. Em comentário irônico a um jornalista da época, Sigmund Freud afirmou: "Na Idade Média eles teriam me queimado. Agora se contentam em queimar meus livros [...]". Freud se enganou. Mais de um século antes, Heirinch Heine fora premonitório.
Foram alvos da ideologia supremacista ariana negros, ciganos, imigrantes, intelectuais divergentes, pessoas doentes e judeus, que hoje, por meio de lideranças sionistas da extrema direita, exterminam pelo uso desproporcional de força os povos palestinos e libaneses. Na Alemanha Nazista, o curso dos acontecimentos demonstrou que muitos dos “alvos” que não fugiram, foram lançados aos fornos crematórios.
Censores de livros literários tentam apagar a denúncia e a crítica social que esses livros trazem.
Lançar luz aos crimes de estupro contra crianças, foi o que fez o livro escrito por Fuad Noman (PSD). Pesquisa recente realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, com participação da Escola de Enfermagem da UFMG, reitera o alarme de horrores de que padece a infância brasileira: 26 partos são realizados todos os dias em meninas de 10 a 14 anos.
Hoje (domingo, 27/10, nota da redação), belo-horizontinos vão às urnas, depois de uma semana coalhada de notícias falsas. Por toda história, a queima real ou simbólica de livros e o achincalhe de autores desembocou no racismo e no extermínio de pessoas. Curiosamente, como chama atenção o escritor venezuelano Fernando Báez, os biblioclastas - ou destruidores de livros - possuem seu próprio livro, que julgam eterno. *Bertha Maakaroun é jornalista e doutora em Ciência Política.
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